“As Ordens da Ajuda”, segundo Bert Hellinger.
por Dagmar Ramos
Sabedoria - Bert Hellinger
O sábio
concorda com o mundo tal como é,
sem temor e
sem intenção.
Está
reconciliado com a efemeridade
e não almeja
além daquilo que se dissipa com a morte.
Conserva a
orientação, porque está em harmonia,
e somente
interfere o quanto a corrente da vida o exige.
Pode
diferenciar entre:
é possível ou
não, porque não tem intenções.
A sabedoria é
fruto de uma longa disciplina e exercício,
mas aquele que
a possui, a possui sem esforço.
Ela está
sempre no caminho e chega à meta,
não porque
procura.
Mas porque
cresce.
Bert Hellinger
nos fala da “arte” da ajuda (As Ordens da Ajuda
– Atman Editora), como uma faculdade que, por um lado, pode ser aprendida e por outro,
exige do ajudante uma sensibilidade para compreender aquele que procura ajuda.
Compreender o que é adequado no momento, o que dá e o que tira força, o que
pode erguer o que procura ajuda acima de si mesmo, para “algo mais abrangente”.
Ele vê a ajuda
como compensação, como algo que serve não só ao que recebe mas ao que doa. Em
relação aos nossos pais, esta “compensação” diante do presente grande demais
que recebemos deles, a nossa própria vida, só é possível através do passar
adiante para os nossos próprios filhos, para a vida que segue.
Portanto, o
tomar e o dar, diz ele, “acontecem em dois níveis, entre pessoas equiparadas,
exigindo reciprocidade e entre pais e filhos, superiores e necessitados, quando
o tomar e dar se assemelha a um rio que leva adiante o que recebe em si”. Essa ajuda última, pressupõe que nós tenhamos
recebido e tomado, somente assim teremos a necessidade e a força de ajudar
outros.
Percebemos,
com freqüência, nas Constelações Familiares, situações onde, por diversas
razões, o “filho” não tomou dos pais, ou de um deles, tudo que deveria, ficando
portanto com este bloqueio no fluxo natural do amor e da ordem, com prejuízo
para o seu desenvolvimento e amadurecimento, revelados, muitas vezes, na
dificuldade em dar, em passar adiante e também em receber de forma madura.
Focando
principalmente na “ajuda” no âmbito da terapia, Bert Hellinger nos apresenta as
suas “Ordens da Ajuda”:
1ª- “Dar apenas o que se tem e somente esperar e
tomar o que se necessita”.
Portanto a
desordem aqui acontece quando uma pessoa quer dar o que não tem, e a outra quer
tomar algo de que não precisa. Também ocorre quando uma pessoa não pode dar
algo porque tiraria da outra algo que só ela pode ou deveria fazer. Portanto,
existem limites no dar e no tomar. Pertence à arte da ajuda, nos diz B.
Hellinger, percebê-los e se submeter a eles.
2ª- “Nos submetermos às circunstâncias e somente
interferir e apoiar à medida que elas o permitirem.”
Olhar junto
com aquele que procura ajuda, pois o querer ajudar contra as circunstâncias
enfraquece tanto o ajudante quanto aquele que espera ajuda ou a quem ela é
oferecida ou, até mesmo, imposta.
Na situação de
uma doença hereditária, por exemplo, ou nas conseqüências de acontecimentos
gerando circunstâncias externas e
internas inalteráveis, não admiti-las leva a ajuda ao fracasso.
...”Para
muitos ajudantes o destino do outro parece difícil e querem então mudá-lo, nem
tanto porque são procurados para tal , mas porque o próprio ajudante não
consegue suportar este destino. E quando o outro, mesmo assim, se deixa ajudar
por eles, não é tanto porque precise disso,
mas porque deseja ajudar o ajudante. Então esta ajuda se torna tomar e o
tomar a ajuda, doar”.
A ajuda na
relação entre pais e filhos.
“ Os pais dão
e os filhos tomam. Os pais são grandes, superiores e ricos, os filhos pequenos,
necessitados e pobres.”
Bert Hellinger
nos fala aqui do profundo amor mútuo que liga pais e filhos em que o dar e o
tomar podem ser quase ilimitados. Os filhos podem esperar quase tudo de seus
pais e os pais estão dispostos a dar quase tudo aos seus filhos. Isto é
necessário, na sua opinião, é a ordem nesta relação. Entretanto, alerta, “é a
ordem enquanto os filhos ainda são pequenos, pois com o avançar da idade, os
pais devem ir colocando limites aos filhos, com os quais estes podem entrar em
atrito e dessa forma, amadurecerem.”
Colocar
limites então, é a condição para que os pais possam preparar os filhos para a
vida de adultos e isto é prova de um grande amor. Muitos filhos ficam com raiva
de seus pais porque preferem manter a dependência original, contudo “é
justamente porque os pais se retraem e desiludem essas expectativas, que ajudam
seus filhos a se libertarem dessa dependência e, passo a passo, a agirem por
própria responsabilidade.” Somente
assim, continua, “os filhos tomam o seu lugar no mundo dos adultos e se
transformam de tomadores em doadores”.
3ª – “Colocar-se como adulto diante do adulto que procura
ajuda; evitar a relação de transferência com os pais”.
Bert Hellinger
neste tópico nos alerta sobre os riscos de querermos substituir os pais
daqueles que nos procuram para ajuda, evitando assim as chamadas transferência
e contra-transferência. Ressalta porém
as condições em que, momentaneamente damos continência enquanto ajudantes, ao
sentimento expresso por aquele que teve precocemente um movimento interrompido
em direção aos pais. Neste momento estamos representando os pais reais do
cliente, sem pretensão de ser melhor ou maior que eles, evitando assim o
desprendimento dele de seus pais reais.
Quando lidamos
com crianças, a mesma observação é válida e ao estabelecermos sintonia com os
pais reais, respeitando-os “de coração”, a ajuda pode ser eficaz mesmo que
momentaneamente temos que representar para elas, os pais afastados numa
situação de interrupção prematura do movimento em direção aos filhos.
“A desordem
neste caso seria permitir que um adulto faça reivindicações ao ajudante como
uma criança aos seus pais, e que o ajudante trate o cliente como uma criança,
para poupá-lo de algo que ele mesmo precisa e deve carregar – a
responsabilidade e as conseqüências”, afirma Bert Hellinger na obra já citada.
4ª- “A empatia do ajudante deve ser menos pessoal e sobretudo sistêmica”.
Não se
envolver pessoalmente com o cliente, esta a 4ª ordem da ajuda, segundo Bert
Hellinger, mas vê-lo fazendo parte de uma família. Desta forma o ajudante pode,
ao entrar em sintonia com o campo familiar do cliente, perceber quem nesta
família precisa realmente de ser respeitado, visto e a quem o cliente precisa
se dirigir para reconhecer os passos decisivos e caminhar.
Muitas vezes
esta “empatia sistêmica” é sentida como dura pelo cliente, particularmente
quando este está manifestando reivindicações infantis. Ao contrário aquele que
procura uma solução, de maneira adulta, sente o procedimento sistêmico como uma
“libertação e uma fonte de força”.
Na relação
professor-aluno a observação desta “ordem” é fundamental para que o professor-ajudante
possa encontrar soluções nos conflitos trazidos pelo aluno-cliente, geralmente
frutos de emaranhamentos familiares complexos. À medida que o professor está
mais em contato com sua própria ordem familiar, estará mais preparado para esta
ajuda diante do aluno e da escola.
5ª- “O amor sem julgamento”.
Sair do
julgamento, da diferenciação entre os bons e os maus, da preocupação com a
“opinião pública” são instrumentos imprescindíveis para ampliarmos nossa
consciência e agir de forma profunda na ajuda que pretendemos. Estar a serviço
da reconciliação e não do conflito é dar imediatamente espaço no coração para
aquele que é criticado pelo cliente, acusado de algoz de seus pretensos males.
Neste caso, se damos lugar na nossa alma àquele que é alvo da crítica do
cliente, estamos antecipando o que ele ainda precisa fazer, o movimento em
direção à reconciliação.
Observação,
percepção, compreensão, intuição e sintonia.
Bert
Hellinger, ao discorrer sobre estas “qualidades” do ser humano, nos orienta sobre
a “gama de possibilidades” no ato de ajudar.
A observação é “aguda, precisa e
direcionada para os detalhes”. E por ser tão precisa, ele diz, “é também
limitada, próxima, resoluta, penetrante e, de certa forma, impiedosa e
agressiva”. É a condição para a “ciência exata e para a técnica moderna”,
conclui.
A percepção é “distanciada”. Embora seja
imprecisa nos detalhes, abrange a vista, vê o todo, os detalhes, mesmo
imprecisos, ao seu redor e no seu lugar,
percebe simultaneamente várias coisas. Um outro lado da percepção é que ela
“entende o observado e o percebido ... ela vê por trás do observado e
percebido, entende o seu sentido, acrescentando à observação externa e à
percepção, uma compreensão”. A compreensão “pressupõe observação e
percepção”. Sem a observação, afirma, “o observado e percebido permanecem sem
relação”. A observação, a percepção e a
compreensão compõem um todo, na opinião de Bert Hellinger e apenas quando atuam
juntas é que “percebemos, de forma que podemos agir de um modo significativo e
sobretudo, também ajudar de um modo significativo”.
A intuição é “a compreensão súbita da
próxima ação a ser realizada”. Enquanto a compreensão, neste conceito, é mais
geral, entendendo todo o contexto e todo o processo, a intuição, ao contrário,
reconhece o próximo passo e por isso é exata. A relação entre a intuição e a
compreensão é semelhante à relação entre a observação e a percepção, na sua
opinião.
A sintonia é “a percepção que vem de
dentro, em um sentido amplo”. Está também direcionada a uma ação,
principalmente a uma ajuda que conduz à ação. A sintonia exige que “eu entre na
mesma vibração do outro, que chegue à mesma faixa de onda, sintonize com ele e,
assim, entenda-o”. Para entendê-lo, preciso também entrar em sintonia com sua
origem, principalmente com seus pais, mas também com seu destino, suas
possibilidades, seus limites, com as conseqüências de seu comportamento, sua
culpa e, finalmente, com sua morte.
Então eu posso
de fato ser o instrumento preciso e adequado da ajuda, numa ordem superior:
“
Em sintonia, eu me despeço de minhas próprias intenções, meu
julgamento, meu
superego e daquilo que ele quer, DO QUE EU DEVO E PRECISO FAZER. Isso quer
dizer: eu chego à mesma sintonia comigo e com o outro. Dessa forma, o outro
também pode entrar em sintonia comigo, sem se perder, sem precisar ter medo de
mim. Também posso estar em sintonia com ele e permanecer em mim mesmo. Não me
entrego a ele, em sintonia com ele conservo a distância e, exatamente por isso,
posso perceber precisamente o que eu posso e devo fazer, quando eu o ajudo. Por
isso a sintonia é também passageira. Dura somente o tempo que dura a ação que
ajuda. Depois disso cada um volta à sua vibração especial. Por isso, não existe
na sintonia transferência nem contratransferência, nem a chamada relação
terapêutica, portanto, nenhuma tomada de responsabilidade pelo outro. Cada um
permanece livre do outro.”
Estas
observações, percepções, compreensões, intuições de Bert Hellinger, embora mais
direcionadas à ajuda no processo psicoterapêutico, estão em sintonia, na minha
opinião, com a ajuda também na relação professor-aluno. Tomar consciência destas qualidades inerentes
e/ou passíveis de aprendizado e treinamento, podem contribuir para um processo
educacional que contribua para a formação do Ser Humano.
Dagmar Ramos é médica homeopata e facilitadora das Constelações Familiares. Trabalha ainda com psicossíntese e dependência química.